LITERANDO...
A propósito do post em que (por uma vez) dou razão a JPC, recebi da leitora (temos de arranjar outro termo) Teresa Santos, Brasil (?), um simpático e discordante mail que reproduzo parcialmente (por puras questões de economia narrativa):
"Permita-me que discorde desta visão de J. Pereira Coutinho e, por arrasto, da posição que você também defende. Sempre me impressionaram os pontos de vista médios sobre quem produz o que quer que seja. Sendo mais directa, irei recorrer a Roland Barthes em conversa com Maurice Nadeau. Diz Barthes o seguinte (o sublinhado é de minha escolha): «Há sempre uma intimidação perante a modernidade, que não se pode evitar. A inovação é intimidante, porque se tem medo de que nos escape o que nela há de importante. Mas aí, também, devia ser-se objectivo, e pensar que a modernidade mais actual contém os seus próprios desperdícios; a modernidade fornece a trouxe-mouxe o desperdício, a experiência, talvez uma obra futura. Há que tomar partido e defender a modernidade nos seu conjunto, assumindo a parte de desperdícios que ela inevitavelmente contém, e que nós, agora, não podemos avaliar com exactidão(...) J. Pereira Coutinho (penso que responde no blog Infame por JPC) declara não ter entendido nada de um livro de Llansol num post anterior a esse que você cita. Sendo ele (penso que o mesmo) um crítico literário quando afirma não entender nada do que lê em Llansol ele está (e volto a citar Barthes) a «erigir a cegueira e o mutismo próprios em regra universal de percepção, é repelir para fora deste mundo» a escrita de Llansol como quem diz: «Eu, cuja profissão é ser inteligente, não entendo nem um pouco disso; ora vós próprios nada compreendeis também; portanto sois tão inteligentes como eu» ou: «Eu não compreendo, portanto vocês são idiotas». "
Cara Teresa,
se reler o meu post e a citação que faço do texto (provocatório, como sempre) do colunista Infame, verá que não encontra nele nenhuma referência a M.Gabriela Llansol, cujo trabalho respeito como tenho que respeitar. Não me resta outra alternativa, como bem indica no seu mail, via citações. Partilhamos a mesma contemporaneidade e só o tempo separará o "desperdício" do resto.
Pedia-lhe que não levasse o Infame à letra e, consequentemente, este seu criado. Há uma dose de provocação no seu post que eu acho proveitosa, nestes tempos de sorumbática seriedade. No meu caso, e sem querer estar de novo a levantar a polémica que fez correr algum sangue nas veias ancilosadas da cultura portuguesa, subscrevo apenas que nem tudo o que não brilha é ouro. Isto é, se olharmos atentamente para alguns textos mais recentes, incensados por algumas pessoas, veremos que espremido não dá nada, ou muito pouco. Não se trata de rejeitar por ser "difícil", permita-me que não enfie o ignaro barrete (Aqui é o prazer voluntariamente "inculto")... Como a Teresa saberá, depois de lermos os primeiros 50 livros "intelectualmente indispensáveis", porém fraudulentos, alguns de nós começamos a separar o trigo do joio. Outros não.
Concluindo e para não alargar a polémica: isto não é um post anti Llansol. Tanta gente menos interessante a escrever, a realizar e a governar neste país, por que é que haveria de me estar a manifestar contra alguém que faz, insistentemente, um trabalho honesto e apreciado por tanta gente? Isso já é mais coisa do JPC ;-)
Um abraço.
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